noticia entrevistaA Neurologia, no Rio de Janeiro, tem sua história um tanto marcante. Esta especialidade teve um grande desenvolvimento entre o final do século XIX e o início do século XX, com grandes nomes como Charcot e Freud, por exemplo. Assim, com o crescimento da área em solo nacional, era de se esperar que tais estudos chegassem ao Brasil. “O desenvolvimento de uma área ligada às doenças do sistema nervoso na Praia Vermelha era não só uma tradição histórica, mas também uma ligação com a história do Rio de Janeiro. Hoje, onde temos o Palácio Universitário, fora o Hospício Pedro II, o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil e o segundo da América Latina.”, conta o professor.

O desenvolvimento da clínica psiquiátrica na universidade foi onde se iniciou as primeiras enfermarias ligadas às doenças primariamente cerebrais – algumas com manifestações comportamentais e psicológicas e outras não.  Isso tudo deu embasamento para que em 1946 fosse aprovado no Conselho Universitário o Instituto de Neurologia. O prestígio pessoal do Professor Deolindo Couto e a verba do governo de Getúlio Vargas foram os pontos principais que garantiram a finalização das obras em 1950.  Assim, mesmo em seus primeiros anos, o Instituto já se apresentava como um grande centro da área, estimulando a visita de grandes nomes da medicina mundial, como Alexander Fleming, descobridor da penicilina.

Com a criação do Hospital Universitário e a mudança da política da universidade, no sentido de centralização, o número do corpo docente foi cada vez mais reduzido e todas as aulas de medicina foram retiradas do Instituto de Neurologia para que o ensino fosse feito exclusivamente no Hospital Universitário. No entanto, as mudanças do currículo não incluíram uma unidade para treinamento de seus alunos, o que fez com que progressivamente o INDC fosse perdendo a sua ação e, mais do que isso, começasse a ser combatido politicamente por interesse de, por exemplo, venda do terreno, localizado em Botafogo, em área nobre da cidade do Rio de Janeiro.

Já nos anos 90, para tentar amenizar a situação, pareceu interessante não só trazer a área básica para cá, mas também novos cursos que estavam dentro da Faculdade de Medicina, como Fisioterapia e Fonoaudiologia. Optaram por realocar cursos aqui por encarar o instituto como um local vazio e sem mais utilidade, esquecendo completamente de que era o único hospital de Neurologia do estado do Rio de Janeiro, com atendimento especializado em doenças neurológicas crônicas degenerativas.

Nos anos que se seguiram o estado do Instituto de Neurologia Deolindo Couto foi apenas se degradando, especialmente quando, em 2000, o INDC não cumpriu os requisitos do MEC para obter certificação como hospital de ensino. Somado a isso, em 2004, após problemas na eleição de novos diretores, o Professor Aloísio Teixeira realizou uma intervenção, escolhendo 5 professores, onde cada um ocuparia um cargo. Foi deste modo que o professor José Luíz foi escolhido como diretor pro tempore.

Enquanto no cargo, José Luíz reparou diversas irregularidades no Instituto, atualizou e reformou diversas áreas e aparelhagens. A neurocirurgia ficou restrita ao HU, junto com operações de emergência e o tratamento de doentes neurológicos que precisem do apoio de médicos de outras áreas, enquanto o INDC se manteve com o tratamento de doenças crônicas degenerativas do sistema nervoso e sua reabilitação. Esses tipos de doenças se tornavam cada vez mais prevalentes, especialmente na população idosa, e o INDC já trabalhava previamente com o atendimento destas enfermidades.

Assim, o Instituto de Neurologia se transformou cada vez  em uma unidade de reabilitação com inserção adequada do indivíduo ao seu ambiente social, não estava entrando em conflito com a atuação do HU, atuando na área da neurociência visando a pesquisa, o ensino e a extensão, vinculados com assistência. Atualmente, ainda sob a direção de José Luiz, o INDC possui um projeto definido de inserção dentro do Complexo Hospitalar da UFRJ integrado com outras unidades, sendo complementar a elas. Para ele, inclusive, certas cirurgias poderiam ser transferidas do Hospital Universitário para o INDC, visando aliviar certas áreas que muitas das vezes não requerem UTI para serem executadas. Segundo ele, cirurgias feitas no HU que demandam reabilitação fonológica e visual poderiam ser facilmente realizadas no Instituto, liberando salas de cirurgias disponíveis para o hospital geral.

Ao final, o professor José Luiz ressalta o perfil atual de atendimento do hospital, onde trabalham com doenças do tipo: epilepsias de difícil controle; demências e distúrbios cognitivos; doença de Parkinson e outras; esclerose lateral amiotrófica; doenças musculares, paralisias do plexo braquial; recuperação da fala e da linguagem e fisioterapia motora, esclerose múltipla. Atualmente, o INDC realiza cerca de 2500 atendimentos por mês e pelo menos 100 diários. “Pode ser mais? Pode! Me dá mais médicos e servidores que eu faço isso dobrado.”, brinca o professor encerrando a entrevista.

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